Manoel e Percillianna Manoel Moreira Carneiro da Fontoura Filho, que assinava Manoel Moreira da Fontoura, nasceu no dia 22 de janeiro de 1848. Percillianna
de Araújo foi batizada no dia 1° de janeiro
de 1857 em Santana do Livramento, sendo seus padrinhos o tenente-coronel
Miguel Luis da Cunha e Úrsula Martins da Cunha. Moça prendada
e culta, pois tocava piano virtuosamente aliada a uma veia poética
admirável e uma simpatia cativante, não foi difícil
conquistar o coração do jovem tenente Manoel.
E das visita que frequentemente fazia à residência do Tabelião
João Manoel, estando sempre presente às festas e horas de
arte que ali se realizavam à miúde, sempre com a finalidade
do aprimiorarnento das artes lítero-rnusicais, e onde se ressaltava
a figura de seu irmão João, um excelente flautista, compositor,
poeta e literato, além de outras qualidades que exornavam as personalidades
inconfundíveis e marcantes da família Araújo. Quando Manoel conheceu a família Araújo, de quem se fez amigo, Percillianna era uma criança de 10 ou 11 anos, que só pensava em brincar com bonecas. Nessa época, Manoel, também adolescente, não pensava em namorar, tratando unicamente de estudar e adquirir conhecimentos, que fizeram dele um homem de elevado caráter e excelente moral, o que muito lhe valeu nos cinco anos de serviços devotados á pátria, onde mostrou seu denodo e bravura por ocasião dos combates em que tomou parte na defesa da Pátria ultrajada.
Mas voltemos um pouco ao ano em que foi deflagrada a Campanha do Paraguai. Aberto o voluntariado, Manoel foi um dos primeiros alistandos e, na véspera de sua partida para o campo da luta, foi despedir-se da família Araújo, sua grande amiga. E ao despedir-se de sua amiguinha brotinho Percillianna, teve Manoel com ela o seguinte diálogo:
São decorridos cinco anos de luta entre Brasil e Paraguai, quando a morte de Francisco Solano Lopez pos fim à guerra. Regressa, então, o tenente Manoel Moreira da Fontoura. Em sua companhia, seu irmão mais novo, Antônio Maria, vão os dois visitar a família Araújo, e dadas as boas vindas aos presentes, Manoel dirigindo-se à sua amiguinha Percillianna, agora uma donzela de 17 anos, inteligente, irradiando uma simpatia cativante, disse-lhe:
Houve
risos naquela afirmação quase categórica do tenente
Manoel. Entretanto, mal sabiam eles, que Antônio Maria ao ser apresentado
à irmã de Percilliana, Delminda, seu coração
vibrou de alegria, e ao contemplar Delminda, selou sua sorte entregando-lhe
seu coração. E aí, como em contos de fadas, casaram-se
e foram muito felizes para o resto da vida. O casal teve cinco filhos.
Finalmente chegou o dia do casamento de Manoel. Na noite que antecedeu ao evento, contam os daquela época, que Percillianna não dormiu a noite inteira, vendo o dia clarear, e conseqüentemente, a hora fatal da perda de seu amor. Sua face estava maltratada pela torrente de lágrimas que verteu durante toda a noite. Mais ou menos, entre 9 e 10 horas da manhã (o casamento estava marcado para a tarde), uma aia de Percillianna entra no quarto nervosamente dizendo: “D. Percillianna, quem vêm vindo aí, a cavalo, é o tenente Moreira!” Percillianna deu um pulo felino da cama, e com um pente na mão tentando ajeitar ligeiramente os cabelos em desalinho decorrentes de uma noite mal dormida, e quando chega à janela, Manoel, montado em seu garboso corcel, disse-lhe apenas, o seguinte: “Percillianna, eu voltarei!” Aquilo,
segundo ela, foi uma dádiva do céu! O seu sofrimento teve
urna pausa. Mas, e a cerimónia do casamento de Manoel
marcado para a tarde desse dia? Pela declaração de Manoel,
deduziu-se logo que a noiva ficou esperando no altar, e o noivo não
apareceu. Em
1893, já casado com Percillianna, tomou parte
ativa na Revolução Federalista deflagrada naquele ano, no
Rio Grande do Sul, no posto de Coronel, tendo sido um dos signatários
do Manifesto dos Maragatos, que assinalou o início de uma luta
sangrenta e cruel entre irmãos, tendo de um lado as forças
estaduais ao mando de Júlio de Castilhos, então Governador
do Rio Grande do Sul, e do outro lado, os maragatos de Gumercindo Saraiva. Percillianna
deixou de existir no dia 24 de dezembro de 1907, na estância de
sua filha Amalthéa, tendo sido sepultada no Cemitério São
Gregório, 4° distrito de Santana do Livramento, até
á extinção do mesmo Cemitério, quando seus
restos mortais foram transferidos para o jazigo perpétuo daquela
sua filha, no cemitério local de Livramento.
|